Ciência iogurteira

Olá mamíferos. Por aqui? Lamento, há tanto sítio melhor onde estar... Bem, já que temos que conviver, vou deixar aqui a minha contribuição para vos melhorar o dia e para reflectirem. Podem até retirar frases do que vão ler, colocar num fundo bonito e publicar no Facebook e no Instagram com um conjunto de hashtags bonitas.

Bem, como disse atrás, o assunto é sério e medidas urgentes devem ser tomadas. Falo obviamente da problemática dos iogurtes visto que este assunto pode tomar proporções não vistas desde o Grande Cisma do Ocidente. Obviamente que as coisas nem sempre foram assim. Tempos houve, numa era em que socializar implicava duas pessoas estarem fisicamente no mesmo espaço e em que a Leopoldina tinha emprego, em que não era preciso ter três pós-graduações e dois doutoramentos para comprar iogurtes. Acabavam-se os iogurtes no frigorífico e ia-se, ou pedia-se a alguém, para ir comprar iogurtes. Era um procedimento simples que obedecia mais ou menos ao seguinte processo:

- de que marca são?
- é líquido ou sólido?
- qual é o sabor?
- com ou sem pedaços?

A grande magia deste processo é que até podíamos responder às perguntas pela ordem que quiséssemos que, desde que todas fossem respondidas, a resposta final estava certa na mesma! Era simples.

Hoje em dia é mais simples configurar um carro ou fazer uma casa do que comprar iogurtes. De cada vez que entro na secção dos iogurtes sinto-me perdido, mais ou menos como se estivesse a consultar um mapa do metro de Tóquio. Comprar um simples iogurte tornou-se uma experiência que nunca ocupa menos de uma tarde. Há iogurtes de aromas, naturais, magros, líquidos, sólidos, sem glúten, sem lactose, sem lectose e sem glúten, para corpos definidos, com L. Casei Imunitass, para o colesterol, para o treino, para o pós-treino, para misturar com Chocapic... Chega-se ao cúmulo de até a nacionalidade do animal ser importante para a escolha, com os Gregos à cabeça. Qualquer dia, há uma secção no corredor dos iogurtes para iogurtes do Espaço Schengen outra para os iogurtes que precisam de mostrar B.I. ao passar na caixa registadora e ainda outra para os requerem visto ou passaporte.

Chegou-se ao cúmulo de haver filas à porta do Lidl para lutar por paletes de iogurtes que parecem queijos frescos para colocar a foto do troféu no Instagram. No fundo, é como ir à caça mas como menos sangue e mato: "e aqui eu sorridente com 4 tampas Skyr de mirtilo capturados num carrinho entre a secção dos legumes e as massas".

Qualquer dia, encontramos à venda nos melhores quiosques a conceituada Revista Iogurtes: "não perca, este mês, um exclusivo R.I. - novo Yoggi Pepino/Kiwi", "fotos-espia da nova geração Corpos Danone" ou ainda "Oykos ou Grego da Nestlé? Testamos os melhores iogurtes gregos do mercado num frente-a-frente imperdível". Claro que com a primeira edição tinha de vir uma guia de escolha para o consumidor. Algo do género "pretende um iogurte com sabor a fruta? Avance para a página 183; Gregos? Siga para a página 46; Problemas intestinais? Tudo o que precisa saber a partir da página 99".

Isto cansa-me. Comam antes uma peça de fruta.

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