A poesia mata
Ainda estou chocado com mais esta (de entre muitas) descoberta que eu fiz recentemente: a poesia mata.
Assim à primeira vista, pode parecer uma frase muita sensacionalista, a fugir um pouco para um certo estilo TVI/24 Horas. O problema no meio disto tudo... é que não é sensacionalismo. É um facto e convém que as pessoas fiquem cientes disso porque parece que até hoje ainda ninguém tinha ficado verdadeiramente ciente disso.
Por esta altura, já a maior parte das pessoas revirou os três vezes e fechou a página. Quanto a essas pessoas, só esperam que sejam apanhadas por um soneto enfurecido numa ruma escura. Para os heróicos resistentes (vá, crentes) que ainda cá estão, eu explico como tudo se passou e como o que eu estou a dizer é tão verdade como a miopia do Sr. Baptista de Setúbal.
Portanto, foi o seguinte: quis o destino que um destes dias eu andasse a queimar tempo algures entre a Boavista e o Campo Alegre. Num sítio com ruas. Muitas ruas. E gente que anda a queimar tempo, repara em coisas. Coisas como o nome dessas ruas. E sucede também que os senhores da Câmara do Porto são uns porreiros e põe informação nas placas de ruas com nomes de pessoas. Coisas giras como a profissão do senhor em questão e os anos do nascimento e da morte.
Quis também o destino (esse animal) que ao passar na Rua de Soares de Passos que eu reparasse nas datas do nascimento e da morte do senhor. O pobre coitado tinha nascido em 1826 e morrido em 1860. 34 anos. É manifestamente pouco. Prestei atenção redobrada à placa para tentar saber se o moço fazia alguma coisa perigosa estilo alpinismo, base-jumpping ou se dava aulas numa Secundária do Porto. Só que não era nada disso, o rapazinho era poeta. Pronto, teve azar, pensei eu. E segui à minha vidinha.
Seguiu-se a Rua de Guilherme Braga no meu plácido roteiro. Outro poeta. Outro desgraçado. 1845 a 1874. 29 anos. Este sócio nem aos 30 chegou. A coisa pelos vistos afectou-o cedo. Começava a surgir-me a dúvida se as ruas daquele bairro teriam nomes de poetas ou nomes de pessoas que morreram cedo... Ou ambas... Mas também podia ser só uma coincidência.
Continuei viagem. Próxima rua: Rua de António Nobre. Desta vez saiu-me um... domador de leões! Não, mentira. Era poeta. Só que... este viveu até aos 90! Não, também é mentira. Viveu 33 anos. Entre 1867 e 1900. Começava a ser coincidência a mais.
Só que, ainda antes de chegar ao Campo Alegre, tinha que passar pela Rua de Guerra Junqueiro. Para variar, mais um poeta... que viveu 73 anos! E este viveu mesmo. Afinal, ainda há esperança. Só que não chegou para me convencer e chegado a casa resolvi investigar mais um pouco e peguei em dois nomes assim ao acaso: Fernando Pessoa e Manuel Maria du Bocage.
O primeiro, ainda viveu uns simpáticos 47 anos (1888-1935). Não é muito mas comparando com os outros que duravam pouco mais de 30 anos, não está mal... Contudo, convém lembrar que o homem se dividia em heterónimos e mesmo só contando com os três mais conhecidos e com o ortónimo dá pouco mais de 10 anos a cada um... E isso é muito, muito pouco.
Já o sôr Bocage viveu apenas 40 anos. Continua a não ser muito e vem reforçar a teoria.
Portanto, e depois desta palha toda, é fácil perceber onde eu quero chegar: todos estes fulanos eram poetas e quase todos eles morreram jovens. Conclusão: a poesia é uma substância extremamente nociva e por muitas vezes conduz a morte muito prematura. Em duas quadras existe mais substâncias letais do que numa manada de nicotina. Uma boa dose de tercetos faz a heroína parecer uma coisa de meninos. Umas sextilhas combinadas com meia dúzia de septilhas podem despachar um gajo em semanas.
E as pessoas não sabem disto e parece que não querem saber! A droga proibi-se, o tabaco leva com mensagens garrafais nos maços que podem ser lidas em Viana do Castelo por um gajo que esteja em Idanha-aNova (FUMAR MATA). E estes gajos das poesias andam por aí à solta e ainda por cima tentam impingir estas coisas a chavalada desde cedo... Claro que há um iluminado qualquer que se vai lembrar de perguntar "E então o Guerra Junqueiro? O homem não viveu 70 e tal anos?". A esse iluminado eu respondo apenas que sim. E acrescento ainda que também há gente a fumar 3 e 4 maços de tabaco por dia e que vive até aos 90 ou que há pessoas que caiem de um 4º andar e sobrevivem. São casos que acontecem, o que não quer dizer que façam bem. Aqui é igual.
No mínimo, os livros de poesia deviam vir com avisos a negrito, bem visíveis na capa com mensagens do género "A POESIA MATA", "POETAR PREJUDICA A SUA SAÚDE E A DOS QUE O RODEIAM", "AS RIMAS PODEM CAUSAR IMPOTÊNCIA". E, eventualmente, discutir-se já num futuro próximo a abolição da poesia. É que anda gente a morrer por causa disso! Alguém tem que fazer alguma coisa. Depois não digam que não avisei.
Assim à primeira vista, pode parecer uma frase muita sensacionalista, a fugir um pouco para um certo estilo TVI/24 Horas. O problema no meio disto tudo... é que não é sensacionalismo. É um facto e convém que as pessoas fiquem cientes disso porque parece que até hoje ainda ninguém tinha ficado verdadeiramente ciente disso.
Por esta altura, já a maior parte das pessoas revirou os três vezes e fechou a página. Quanto a essas pessoas, só esperam que sejam apanhadas por um soneto enfurecido numa ruma escura. Para os heróicos resistentes (vá, crentes) que ainda cá estão, eu explico como tudo se passou e como o que eu estou a dizer é tão verdade como a miopia do Sr. Baptista de Setúbal.
Portanto, foi o seguinte: quis o destino que um destes dias eu andasse a queimar tempo algures entre a Boavista e o Campo Alegre. Num sítio com ruas. Muitas ruas. E gente que anda a queimar tempo, repara em coisas. Coisas como o nome dessas ruas. E sucede também que os senhores da Câmara do Porto são uns porreiros e põe informação nas placas de ruas com nomes de pessoas. Coisas giras como a profissão do senhor em questão e os anos do nascimento e da morte.
Quis também o destino (esse animal) que ao passar na Rua de Soares de Passos que eu reparasse nas datas do nascimento e da morte do senhor. O pobre coitado tinha nascido em 1826 e morrido em 1860. 34 anos. É manifestamente pouco. Prestei atenção redobrada à placa para tentar saber se o moço fazia alguma coisa perigosa estilo alpinismo, base-jumpping ou se dava aulas numa Secundária do Porto. Só que não era nada disso, o rapazinho era poeta. Pronto, teve azar, pensei eu. E segui à minha vidinha.
Seguiu-se a Rua de Guilherme Braga no meu plácido roteiro. Outro poeta. Outro desgraçado. 1845 a 1874. 29 anos. Este sócio nem aos 30 chegou. A coisa pelos vistos afectou-o cedo. Começava a surgir-me a dúvida se as ruas daquele bairro teriam nomes de poetas ou nomes de pessoas que morreram cedo... Ou ambas... Mas também podia ser só uma coincidência.
Continuei viagem. Próxima rua: Rua de António Nobre. Desta vez saiu-me um... domador de leões! Não, mentira. Era poeta. Só que... este viveu até aos 90! Não, também é mentira. Viveu 33 anos. Entre 1867 e 1900. Começava a ser coincidência a mais.
Só que, ainda antes de chegar ao Campo Alegre, tinha que passar pela Rua de Guerra Junqueiro. Para variar, mais um poeta... que viveu 73 anos! E este viveu mesmo. Afinal, ainda há esperança. Só que não chegou para me convencer e chegado a casa resolvi investigar mais um pouco e peguei em dois nomes assim ao acaso: Fernando Pessoa e Manuel Maria du Bocage.
O primeiro, ainda viveu uns simpáticos 47 anos (1888-1935). Não é muito mas comparando com os outros que duravam pouco mais de 30 anos, não está mal... Contudo, convém lembrar que o homem se dividia em heterónimos e mesmo só contando com os três mais conhecidos e com o ortónimo dá pouco mais de 10 anos a cada um... E isso é muito, muito pouco.
Já o sôr Bocage viveu apenas 40 anos. Continua a não ser muito e vem reforçar a teoria.
Portanto, e depois desta palha toda, é fácil perceber onde eu quero chegar: todos estes fulanos eram poetas e quase todos eles morreram jovens. Conclusão: a poesia é uma substância extremamente nociva e por muitas vezes conduz a morte muito prematura. Em duas quadras existe mais substâncias letais do que numa manada de nicotina. Uma boa dose de tercetos faz a heroína parecer uma coisa de meninos. Umas sextilhas combinadas com meia dúzia de septilhas podem despachar um gajo em semanas.
E as pessoas não sabem disto e parece que não querem saber! A droga proibi-se, o tabaco leva com mensagens garrafais nos maços que podem ser lidas em Viana do Castelo por um gajo que esteja em Idanha-aNova (FUMAR MATA). E estes gajos das poesias andam por aí à solta e ainda por cima tentam impingir estas coisas a chavalada desde cedo... Claro que há um iluminado qualquer que se vai lembrar de perguntar "E então o Guerra Junqueiro? O homem não viveu 70 e tal anos?". A esse iluminado eu respondo apenas que sim. E acrescento ainda que também há gente a fumar 3 e 4 maços de tabaco por dia e que vive até aos 90 ou que há pessoas que caiem de um 4º andar e sobrevivem. São casos que acontecem, o que não quer dizer que façam bem. Aqui é igual.
No mínimo, os livros de poesia deviam vir com avisos a negrito, bem visíveis na capa com mensagens do género "A POESIA MATA", "POETAR PREJUDICA A SUA SAÚDE E A DOS QUE O RODEIAM", "AS RIMAS PODEM CAUSAR IMPOTÊNCIA". E, eventualmente, discutir-se já num futuro próximo a abolição da poesia. É que anda gente a morrer por causa disso! Alguém tem que fazer alguma coisa. Depois não digam que não avisei.
Comentários
e tnho dito^^
collection of great articles and essays thank you