Bruxas, flores e pinheiros
O calendário de vez em quando tem uns caprichos engraçados. Não falo do calendário da Liga que também tem as suas manias mas sim do calendário gregoriano, aquele que tem 365 dias e vai de Janeiro a Dezembro. Estão a ver qual é? Óptimo.
Quem se der ao trabalho de dar uma vista de olhos ao dito cujo, vai reparar que, por estes dias, as únicas datas de relevo são o Dia das Bruxas e o Dia de Todos os Santos. Para além disso, logo a seguir temos o Natal. Logo a seguir? Sim, logo a seguir mas já lá vamos.
Sexta-feira passada foi dia 31. O tal Dia das Bruxas. Como todos sabem, o Dia das Bruxas (Halloween, no original) é, tal como a Coca-Cola e o Big Mac, uma ancestral tradição portuguesa. Neste dia decora-se tudo com motivos mórbidos, as pessoas usam máscaras de mortos, esqueletos, monstros e outros que tal, a petizada anda alegremente de porta em porta a pedir uns Kinders Surpresa ou uns Chupa-Chupas docinhos. A gente mais crescida aproveita o pretexto para ir até ao bar ou discoteca mais à mão abanar o capacete. Aliás, esta é a parte boa do Halloween e muito provavelmente o motivo pelo qual se começou a assinalar o dia por cá: é mais um óptimo pretexto para festas e nisso (a arranjar pretexto para festas) somos imbatíveis. É pretextos para festas e para comer. E se possível combinar os dois. Nisso, ainda não apareceram melhores que os portugueses. Quando alguém ouvir dizer que por terras do Tio Sam há um dia para se comer perú assado, aposto que passamos a festejar o Dia de Acção de Graças também. Por mim tudo bem. Para comer e festejar também estou sempre pronto, ou não fosse eu um bom português. Ah, e para falar mal também, ia-me esquecendo dessa. Mas fiquemo-nos pelas festas, por enquanto.
Já agora, acho uma pena o Dia das Bruxas não ser feriado. Eu acho que merecia ser. Ali mesmo juntinho ao 1º de Novembro calhava mesmo bem e tudo. Até se podia fazer ponte o resto da semana. Quem sabe, um dia...
Bem, o pessoal vai para a night, bebe uns canecos e no dia seguinte toca a levantar cedinho para ir visitar cemitérios. O contraste é, no mínimo, engraçado: num dia anda tudo de negro, motivos a lembrar mortos e bruxas por todo o lado e no dia seguinte... santos! Flores, cor e santos. E não são dois, nem três, nem quatro santos: são todos! Vem o batalhão em peso.
Eu acho que quando fizeram o calendário que começaram a distribuir santos pelos dias: "ora, o Sto. António pode ficar com o 13 de Junho; o São Pedro fica com o 29 de Junho; o São João... o São João... deixa ver se arranjámos uma data aqui pelo meio... 24 de Junho! O São João pode ficar com o 24 de Junho para o gajo das sardinhas despachar o stock.". No meu dia de anos até arranjaram vaga para um tal de São Estanislau só que o calendário deles devia estar a ficar sobrelotado e então para resolverem este problema resolveram meter tudo no mesmo dia. Cria-se um dia para eles todos e ponto final. Assunto resolvido. Só que um dia para tanta gente importante merece as suas celebrações e, vai daí, resolveram criar competições de arranjos florais nos cemitérios. Claro que quem vela pelos seus mortos gosta de lhe levar umas flores e manter a capa limpa regularmente e particularmente em ocasiões importantes como aniversários. Depois temos o Dia de Todos os Santos onde as pessoas gostam de mostrar que "a minha campa é melhor e mais bonita que a tua" e fazem questão que toda a gente veja isso. Já agora aproveitam a ocasião para falar das campas dos vizinhos (lembram-se do que dizia há bocado sempre sermos os maiores a falar mal dos outros?). Eu acho que para quem não esteja habituado a todo este festival que esta competição pode parecer, no mínimo, mórbida. Para nós já é tão normal que nem lígamos. Por mim estava tudo óptimo se não me estacionassem o carro em frente ao portão de casa. Todos os anos é isto! Será que pensam que por morar ao lado de um cemitério que já estou morto e que por isso não preciso do portão para sair de casa? Este ano um desses artistas levou um autógrafo da Polícia Municipal para casa como recordação. Temos pena. Aposto que para o ano arranja outro sítio onde estacionar.
Já agora, deixo uma pequena sugestão: quando eu morrer, não me levem flores, levem sementes e plantem na terra em volta da minha campa. Sempre gostava de saber se eu dava bom adubo ou não. Adiante.
Falta falar da última festividade da época e que juntamente com o Dia das Bruxas e o Dia de Todos os Santos forma um triunvirato de luxo: o Natal.
Eu sei que ainda faltam quase dois meses para o Natal. É mais tempo do que aquele que eu costumo de ter de férias grandes (recurso oblige...). Mas pelos vistos devo ser a única pessoa a saber disso. Já na última semana de Outubro se começavam a ver umas tímidas decorações nas lojas e uns anúncios na TV. Nas cidades começavam a montar as iluminações de rua.
Contudo, desde que Novembro começou, os anúncios surgiram em força e as decorações já ocupam montras inteiras. Porquê? Porque alguém olhou para o calendário e disse "ei pessoal! O Natal é já para o mês que vem!". E o pessoal acreditou. Esqueceram-se foi de dizer que era para o mês que vem... mas quase no fim do mês. Mas está bem. Já sabem que se a ideia é celebrar, contem comigo. 'Bora para Sta. Catarina comer umas castanhas e ver as iluminações das ruas. Pena é que o Halloween já tenha passado. O efeito de ver montras com bonequinhos de neve, Pais Natal e estrelas todas cintilantes num canto da montra e abóboras com sorrisos maléficos, caveiras e bruxas no outro canto da montra é algo de memorável e que devia durar mais tempo. Só por isto, já valia a pena adiar o Dia das Bruxas uns quinze dias ou então antecipar o Natal.
Como compensação, e já que o Natal entra sem pedir licença pela época do Dia das Bruxas e Todos os Santos, este ano a criançada podia andar a bater de porta em porta, na manhã de Natal, a perguntar "Doçura ou Travessura?" e em vez do tradicional pinheiro punha-se no seu lugar uma enorme jarra de flores. Os pinheiros podia-se pôr nas sepulturas. E o Pai Natal ia abanar o capacete para a Vogue no Halloween.
Quem se der ao trabalho de dar uma vista de olhos ao dito cujo, vai reparar que, por estes dias, as únicas datas de relevo são o Dia das Bruxas e o Dia de Todos os Santos. Para além disso, logo a seguir temos o Natal. Logo a seguir? Sim, logo a seguir mas já lá vamos.
Sexta-feira passada foi dia 31. O tal Dia das Bruxas. Como todos sabem, o Dia das Bruxas (Halloween, no original) é, tal como a Coca-Cola e o Big Mac, uma ancestral tradição portuguesa. Neste dia decora-se tudo com motivos mórbidos, as pessoas usam máscaras de mortos, esqueletos, monstros e outros que tal, a petizada anda alegremente de porta em porta a pedir uns Kinders Surpresa ou uns Chupa-Chupas docinhos. A gente mais crescida aproveita o pretexto para ir até ao bar ou discoteca mais à mão abanar o capacete. Aliás, esta é a parte boa do Halloween e muito provavelmente o motivo pelo qual se começou a assinalar o dia por cá: é mais um óptimo pretexto para festas e nisso (a arranjar pretexto para festas) somos imbatíveis. É pretextos para festas e para comer. E se possível combinar os dois. Nisso, ainda não apareceram melhores que os portugueses. Quando alguém ouvir dizer que por terras do Tio Sam há um dia para se comer perú assado, aposto que passamos a festejar o Dia de Acção de Graças também. Por mim tudo bem. Para comer e festejar também estou sempre pronto, ou não fosse eu um bom português. Ah, e para falar mal também, ia-me esquecendo dessa. Mas fiquemo-nos pelas festas, por enquanto.
Já agora, acho uma pena o Dia das Bruxas não ser feriado. Eu acho que merecia ser. Ali mesmo juntinho ao 1º de Novembro calhava mesmo bem e tudo. Até se podia fazer ponte o resto da semana. Quem sabe, um dia...
Bem, o pessoal vai para a night, bebe uns canecos e no dia seguinte toca a levantar cedinho para ir visitar cemitérios. O contraste é, no mínimo, engraçado: num dia anda tudo de negro, motivos a lembrar mortos e bruxas por todo o lado e no dia seguinte... santos! Flores, cor e santos. E não são dois, nem três, nem quatro santos: são todos! Vem o batalhão em peso.
Eu acho que quando fizeram o calendário que começaram a distribuir santos pelos dias: "ora, o Sto. António pode ficar com o 13 de Junho; o São Pedro fica com o 29 de Junho; o São João... o São João... deixa ver se arranjámos uma data aqui pelo meio... 24 de Junho! O São João pode ficar com o 24 de Junho para o gajo das sardinhas despachar o stock.". No meu dia de anos até arranjaram vaga para um tal de São Estanislau só que o calendário deles devia estar a ficar sobrelotado e então para resolverem este problema resolveram meter tudo no mesmo dia. Cria-se um dia para eles todos e ponto final. Assunto resolvido. Só que um dia para tanta gente importante merece as suas celebrações e, vai daí, resolveram criar competições de arranjos florais nos cemitérios. Claro que quem vela pelos seus mortos gosta de lhe levar umas flores e manter a capa limpa regularmente e particularmente em ocasiões importantes como aniversários. Depois temos o Dia de Todos os Santos onde as pessoas gostam de mostrar que "a minha campa é melhor e mais bonita que a tua" e fazem questão que toda a gente veja isso. Já agora aproveitam a ocasião para falar das campas dos vizinhos (lembram-se do que dizia há bocado sempre sermos os maiores a falar mal dos outros?). Eu acho que para quem não esteja habituado a todo este festival que esta competição pode parecer, no mínimo, mórbida. Para nós já é tão normal que nem lígamos. Por mim estava tudo óptimo se não me estacionassem o carro em frente ao portão de casa. Todos os anos é isto! Será que pensam que por morar ao lado de um cemitério que já estou morto e que por isso não preciso do portão para sair de casa? Este ano um desses artistas levou um autógrafo da Polícia Municipal para casa como recordação. Temos pena. Aposto que para o ano arranja outro sítio onde estacionar.
Já agora, deixo uma pequena sugestão: quando eu morrer, não me levem flores, levem sementes e plantem na terra em volta da minha campa. Sempre gostava de saber se eu dava bom adubo ou não. Adiante.
Falta falar da última festividade da época e que juntamente com o Dia das Bruxas e o Dia de Todos os Santos forma um triunvirato de luxo: o Natal.
Eu sei que ainda faltam quase dois meses para o Natal. É mais tempo do que aquele que eu costumo de ter de férias grandes (recurso oblige...). Mas pelos vistos devo ser a única pessoa a saber disso. Já na última semana de Outubro se começavam a ver umas tímidas decorações nas lojas e uns anúncios na TV. Nas cidades começavam a montar as iluminações de rua.
Contudo, desde que Novembro começou, os anúncios surgiram em força e as decorações já ocupam montras inteiras. Porquê? Porque alguém olhou para o calendário e disse "ei pessoal! O Natal é já para o mês que vem!". E o pessoal acreditou. Esqueceram-se foi de dizer que era para o mês que vem... mas quase no fim do mês. Mas está bem. Já sabem que se a ideia é celebrar, contem comigo. 'Bora para Sta. Catarina comer umas castanhas e ver as iluminações das ruas. Pena é que o Halloween já tenha passado. O efeito de ver montras com bonequinhos de neve, Pais Natal e estrelas todas cintilantes num canto da montra e abóboras com sorrisos maléficos, caveiras e bruxas no outro canto da montra é algo de memorável e que devia durar mais tempo. Só por isto, já valia a pena adiar o Dia das Bruxas uns quinze dias ou então antecipar o Natal.
Como compensação, e já que o Natal entra sem pedir licença pela época do Dia das Bruxas e Todos os Santos, este ano a criançada podia andar a bater de porta em porta, na manhã de Natal, a perguntar "Doçura ou Travessura?" e em vez do tradicional pinheiro punha-se no seu lugar uma enorme jarra de flores. Os pinheiros podia-se pôr nas sepulturas. E o Pai Natal ia abanar o capacete para a Vogue no Halloween.
Comentários
Não te queixes, ao menos temos muitas festinhas! É muito giro! Sem dúvida..
Ahh.. e nós já sabemos que não tens nada pra fzer! Já não é novidade!
xD