Canções de Natal

No princípio... havia a Leopoldina.

A Leopoldina chegava pela altura do Natal e entrava pelas janelas da canalhada que dormia alegremente e levava-as, qual Peter Pan penugento, não para a Terra do Nunca mas sim para o Mundo Encantado dos Brinquedos.

O Mundo Encantado dos Brinquedos também não era um sítio mau de todo para se estar. Basicamente, havia brinquedagem por todo o lado e não havia escola para ninguém. Era só Micro Machines, Legos, Playmobiles, bonecada dos Power Rangers e afins. Claro que o Mundo Encantado dos Brinquedos podia ser só uma fachada para atrair criancinhas para trabalhar numa fábrica clandestina da Nike para vender mais barato ao Continente mas isto também podem ser devaneios meus.

Voltemos então aos factos. O negócio começou a correr bem e a Leopoldina alargou o franchising a Circos dos Brinquedos, Planetas dos Brinquedos, etc. Este ano ficou-se pela terreola dos brinquedos e parece que organizou uma parada para mostrar as novidades e tudo. Uma coisa em grande. Parece que agora já não precisa de ir buscar as crianças a casa, durante a noite pois, para além de poder ser acusada de rapto, o passa-palavra funcionou e elas aprenderam a ir lá pelo seu próprio pé, com o cartão-de-crédito dos pais no bolso.

Durante muitos anos esta potencial amante do Poupas foi a única mascote de Natal dos supermercados. O Jumbo e o Feira Nova ainda ameaçavam de vez em quando com qualquer criatura cantante mas nada que assustasse. E vivíamos todos felizes assim. Até que há coisa de um ano o Modelo achou que também era giro ter uma mascote natalícia.

Uma decisão destas assusta sempre. Nunca se sabe muito bem o que pode sair dali... Pode sair uma coisa sossegadita e inocente, que se limite a incentivar a petizada a azucrinar a cabeça aos pais para lhes comprar montes de prendas, para eles ficarem cheios de dívidas e depois não poderem pagar os empréstimos e mandar os bancos todos à falência ou então, em vez disso, corremos o risco de se lembrarem de alguma coisa particularmente melga e irritante e melga e chata e melga e... coisas assim. Infelizmente, optaram pela segunda via e criaram uma fofura de uma hipopótama toda sexy com um nome que soa como "compota" e que enche estádios a cantar músicas da Gwen Stefani. Popota, de seu nome.

O Natal passou e a criatura foi-se embora. "Para nunca mais voltar", gostava eu de concluir. Mas não posso. O Natal está aí e trouxe à pendura a Popota. Só que ela não se limitou a voltar. Voltou e sinto o Lado Negro mais forte do que nunca. Ela voltou, com uma música mais chata do que nunca... e trouxe com ela o Tony Carreira! Medo! Muito medo! Que mal fiz eu? É por causa do blog? Se for isso fecha-se já hoje a tasca e ninguém se zanga... Bastava pedir. Não era preciso passar para o domínio da violência.

Adeus, foi um prazes escrever aqui, até qualquer dia...

...não? Afinal não tem nada a ver comigo? Ah, bom. Podemos continuar então.

Ora, temos o Tony Carreira com a Popota, não é? Superado o choque inicial e vistas bem as coisas até é um dueto que faz o seu sentido: afinal de contas, nenhum dos dois canta músicas suas. E como se não lhes bastasse as músicas dos outros este ano resolveram também apropriar-se de cenas famosas de alguns filmes. Acho que agora vou passar a cena da dança do John Travolt com a Uma Thurman no Pulp Fiction com outros olhos... o que não é necessariamente bom.

Tudo isto porquê, afinal? Por um Causa Maior. Dizem eles. E se dizem, quem sou eu para duvidar?
Que causa é essa afinal? Ouvi falar em Cruz Vermelha... Pouco provável, digo eu. A única causa suficientemente nobre neste momento para justificar algum donativo será mesmo uma campanha para calar a Popota e o Tony Carreira. No fundo, fizeram-nos reféns: "vamos melgar aquela gente até que nos paguem uma soma considerável para nos irmos embora caladinhos". E a gente paga, que remédio... Fazemos o que for preciso. Por mim, até se nacionalizava a Popota e punha-se sob gestão da Caixa Geral de Depósitos. Ficava no call center, a trabalhar para os senhores. Não, o call center é má ideia: ainda se punha a cantar quem ligasse para lá... Ficava a arrumar papéis numa secretária. Ou então apanhava uma boleia da Leopoldina e ia para o Mundo Encantado dos Brinquedos. E ficava por lá. A cozer meias... Qualquer coisa.

Fica o pedido: pequenada, vós, que leis isto nos vossos Magalhães, convidem a Tia Popota para umas férias convosco no Mundo Encantado dos Brinquedos... e depois, deixem-na por lá. A tomar chá com a Barbie e o Ken. Ou a arrumar-lhes a casa. Arranjem-se. Mas levem-na...

Comentários

Mensagens populares