Red Bull Air Race

600 000 pessoas. Para quem não conseguir ver direito quantos zeros tem ali ou não souber contar, são seiscentas mil pessoas. É o número estimado de pessoas que Sábado estiveram no Porto e Gaia a assistir a esta competição. Ou, como no meu caso, a tentar assistir. Era muita gente! Era o cenário ideal para ter acontecido uma tragédia! Mas vamos por partes, antes que me acusem de ser um psicopata em part-time.
Então é o seguinte: estavam lá cerca 600mil PORTUGUESES! Ok, mais avec menos avec, mais turista menos turista era quase tudo português. Nem que fossem só 590mil, era muito tuga junto! E eu até acredito que os portugueses gostem muito de aviõezinhos e tal mas, sejamos sinceros, gostam muito mais de tragédias do que de aviões. Quem não se lembra dos pessoal que foi para Entre-os-Rios de lancheira e garrafão de vinho na mão ver as operações de resgate do pessoal que morreu quando a ponte caiu? Os bombeiros até tinham direito a aplausos e apupos, quais jogadores da bola! Ainda por cima, entre os espectadores o que não faltava era espectadores assíduos do Jornal Nacional e das tardes da Júlia... Eu sei que eu estive lá e vi-os! Sim, eu reconheço esse pessoal pela maneira de andar, pela forma como olham prás coisas, até pelo cheiro lá vou!
Isto só era chato e tal pelas pessoas que morriam, sobretudo se eu fosse uma delas mas ia haver muita gente feliz. Aliás, quando no fim das qualificações atravessava a ponte D. Luiz I em direcção ao Porto confesso que não contava que aquilo começasse a abanar, o que me fez pensar por momentos que até podia vir a ser protagonista da tragédia. A perspectiva de me tornar famoso e ter direito a uma fotografia nas tarde da Júlia e tal até era gira mas decididamente a vista do fundo do Rio Douro não condiz muito com a minha personalidade... Se bem que uma tragédia como a queda do tabuleiro de ponte com milhares de pessoas ao rio devesse ser um óptimo argumento para termos as tardes da Júlia ao vivo do local das operações de salvamento sob o tema "Eu era para ter atrevassado a ponte, mas o meu mais novo pediu-me para ir comer uma bifana". Depois tínhamos o pessoal todo atrás das câmaras, a matarem-se uns aos outros para darem o seu belo testemunho do género "eu disse logo! Isto dos aviões e coiso e logo no rio eu disse para o meu Manel: Manel, isto vai cheira-me a esturro! Eu lembro-me que lhe disse isto porque a Dona Alzira do 2º Esquerdo tinha vindo lá a casa pedir-me pão-ralado e eu pensei, olha o meu Manel anda ralado por não ir ver os aviões mas isto não é coisa boa que eu sei. Eu disse logo" ou então "Atoum, eu disse logo à minha mulher: ò Zira, tu queres ver que isto dos aviões no Porto bai dar barraco e ninguém faz nada? Ela disse que não ouvia porque estava a fazer o jantar e eu disse-lhe que se viesse trazer-me a cerveja que lhe tinha pedido à sala enquanto bia a bola que ela ouvia muito melhor e depois à custa disso ela depois até lebou no focinho! Pois é, a minha Zira lebou no focinho por causa dos aviões e ninguém se responsabiliza! É sempre assim neste país, ninguém assume a responsabilidade das coisas!".
Bem, vistas as coisas assim, ficar no fundo do Douro até era capaz de não ser assim tão mau como isso...
Deixo-vos então com essa bela imagem: seiscentos mil portugueses a presenciar em directo uma grande tragédia... e já com toda a logística montada para assistirem e tudo. Até televisões lá tinha! Os senhores terroristas que me lêem, se quiserem ganhar uns trocos extras que esta coisa de aterrorizar ainda fica cara para o ano já sabem como fazer: levam umas bombinhas e tal, estouram com alguma coisa e depois abrem uma barraquinha com finos e tremoços por uns dias que já ganham para muito atentado...

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