A Campanha do Referendo Sobre o Aborto

Ora bem, antes de mais, eu neste momento não venho para aqui defender o SIM nem o NÃO porque não é isso que me preocupa neste momento.

O que me preocupa neste momento, e penso que essa é que é a questão verdadeiramente importante, é o tempo que somos forçados a ouvir falar sobre o referendo. É assim, isto ao princípio até é giro: uma pessoa está farta de só ver novelas e floribelas na televisão, ouvir sempre as mesmas músicas na rádio e assim e eis que, de repente, aparecem uns senhores nuns cenários muito giros, com uns discursos todos aperaltados a tentar convencer as pessoas a votar no que eles querem. Isto, por si só, já é giro que chegue. E a coisa ainda fica mais gira quando vemos durante um tempo de antena inteiro um logotipo no canto a dizer algo como "4POUS" ou "Não, obrigada" (gosto particularmente deste último, é sempre bom quando as pessoas são educadas connosco. Aquele obrigada nota-se que é sincero e profundo). As coisas já estavam giras, mas eles ainda vão mais longe: metem slognas que rimam. Poesia! Um bocado de cultura sempre fez bem. Quando já nos damos por satisfeitos, novas surpresas aparecem: a parte da porrada. Infelizmente não chega a ser física, mas tem a sua piada ver uns senhores com umas gravatas engraçadas a chamar assassinos aos rivais e estes a responderem com mimos como fascistas e ditadores. Stallone não faria melhor. Até aqui tudo bem. Wrestling em horário nobre nunca fez mal a ninguém. Tinhamos comédia-poesia-acção. Um verdadeiro 3 em 1.

Obviamente, isto era bom de mais. E o que a princípio parecia ter uma certa piada, começou a ficar fora de controlo: tempos de antena na rádio, tempos de antena na televesão, manifestações nos telejornais, debates no fim dos telejornais, correntes nos mails, discussões nos fóruns mais insupeitos, panfletos nas caixas de correio, nos vidros dos carros, outdoors gigantes. Meus senhores: CHEGA! Um pouco de sossego, por favor. Eu garanto que nunca fiz nenhum aborto e deixo abortar quem os quiser fazer. Os senhores do NÃO e do SIM já estão contentes? Se quiserem mais alguma coisa, um cházinho, um jornal onde não fale da campanha, uns tic-tacs, digam, mas por favor, digam de uma vez! A sério, a princípio tinha piada, uns minutinhos por dia não faziam mal a ninguém mas a paciência tem limites... A campanha consegue aparecer-nos à frente mais vezes que a Floribela e olhem que isso é dizer muito... Ide, ide à vossa vida. Ide treinar as cruzinhas para não se enganarem a preencher o boletim. Fazei o Totobola. No Porto é melhor pôr tripla. Mas ide. Sossegai. Devolvam-nos a nossa programação fraquinha. Devolvam o Marcelo. Devolvam a Floribela. Devolvam os intervalos na rádio. Fiquem com o André Sardet. E pensando melhor, fiquem com a gaja das fadinhas também. Sê-de felizes. E deixem-me ser também. DC